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19/10/2012 – 02h12
Thiago Lacerda vive Hamlet contemporâneo no teatro; leia entrevista
MARIA LUÍSA BARSANELLI
DE SÃO PAULO

Como muitos atores, Thiago Lacerda pensava há um tempo em montar um texto de William Shakespeare, mas descartava a ideia de interpretar “Hamlet”. “Sempre me pareceu a peça mais montada, a mais conhecida, o personagem mais falado”, diz.

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Mas mudou de ideia quando surgiu o convite de ser dirigido por Ron Daniels, um especialista no bardo inglês e diretor associado da companhia inglesa Royal Shakespeare Company.

Seu “Hamlet”, uma releitura contemporânea do texto, estreia nesta sexta-feira (19) no Tuca (zona oeste de São Paulo).

O ator interpreta o papel-título da clássica tragédia, o do príncipe dinamarquês que, ouvindo o fantasma do falecido pai, decide vingar a sua morte.

Leia a seguir a entrevista que Lacerda concedeu ao “Guia”:

Guia Folha – Você já tinha há um tempo a ideia de montar um Shakespeare, mas não um “Hamlet”. Por quê?
Thiago Lacerda – Meu último espetáculo foi uma montagem de “Calígula” [2008, dirigida por Gabriel Villela], de Albert Camus. Pensei que, depois disso, talvez fosse uma boa oportunidade de montar um Shakespeare. Obviamente, o primeiro texto que vem à cabeça, nessa fase da minha vida, é “Hamlet”. Mas sempre me pareceu a peça mais montada, a mais conhecida, o personagem mais falado. De todos os espetáculos de Shakespeare, talvez tenha sido o que eu mais vi. Então, optei por não pensar nisso. E transformei Calígula no meu Hamlet. Porque a estrutura de Camus é simular a “Hamlet”, quer dizer, ele usa em “Calígula” um pouco do que Shakespeare propõe como estrutura dramática.

E como foi quando surgiu o convite para viver o príncipe da Dinamarca?
Ruy Cortez [produtor da peça] me ligou, em nome de Ron Daniels, propondo “Hamlet”. Eu imediatamente aceitei, porque era Ron e porque foi um convite muito gentil. Eu logo desisti da ideia de não pensar em “Hamlet” e percebi que, se eu não fizesse Hamlet nesse momento, eu não faria nunca mais. A ideia de estar com Ron era talvez uma espécie de argumento que faltava para mim, porque ele tem uma vivência desse texto que me fez abrir mão de todo esse sedimento que temos sobre a obra.

Daniels propõe para a montagem que a equipe esqueça as referências da obra e olhe para esse “Hamlet” como se visse o texto pela primeira vez. Como é para você essa abordagem?
Eu acho essa proposta maravilhosa, porque é claro que hoje muito pouca coisa da peça é cem porcento original. Ao longo desses séculos em que esse texto foi montado, ele já foi lido, relido, pensado, repensado. O que interessa basicamente quando Ron diz “uma forma totalmente nova” é que a gente tem que se manter íntegro, isso é um procedimento de disponibilidade absoluta de cada um de nós para com a obra.

Daniels também propõe um certo humor sarcástico no texto…
Essa ideia do humor é muito nova para mim. A forma como Ron enxerga o humor nesse texto, por exemplo, eu nunca tinha enxergado. O humor que a gente imprime nessa montagem é muito influência de um pensamento dele.

E como está sendo a construção do seu Hamlet?
A minha construção tem sido cotidiana. Antes de começar o processo, a gente já tinha conversado sobre a ideia de nos mantermos íntegros sobre o texto. E eu deixei essas referências todas, todos os livros que estava lendo, para trás. Eu me dediquei à nossa mesa de leitura e ao nosso ensaio. A gente discorda em muitos momentos. Mas eu apresento a minha ideia e é bonito de ver um cara como Ron dizer “tá bom”. Esse é o frescor que ele busca.

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Postado em 12/10/2012 por Dirceu Alves Jr | 1 comentário
“Não vejo Hamlet como um veículo para brilhar sozinho”, diz Thiago Lacerda

Quatro anos depois de Wagner Moura dividir opiniões na pele do grande personagem criado por William Shakespeare é a vez de o ator carioca Thiago Lacerda protagonizar a tragédia “Hamlet”. Aos 34 anos, o galã popularizado pelas novelas não teme comparações com nenhum dos colegas, contemporâneos ou não, que enfrentaram o desafio. A montagem comandada pelo diretor brasileiro Ron Daniels, que vive entre os Estados Unidos e a Inglaterra há 30 anos, estreia no Tuca na sexta (19).

Quando chega a hora de um ator interpretar Hamlet?

A hora se faz. Já pensava em montar algum texto de Shakespeare. Gosto de tantos e, de certa forma, fugia de “Hamlet”. Como tinha feito “Calígula” entre 2008 e 2009, eu achava que não era o caso. Para mim, os dois têm uma estrutura dramática semelhante. Mas recebi uma ligação do Ruy Cortez (idealizador do projeto) e veio esse convite. Ser dirigido pelo Ron Daniels, um cara que tem pelo menos quatro montagens de “Hamlet” nas costas e é especialista em Shakespeare, também me animou muito. Vi que poderia ser agora ou nunca.

É um personagem cercado de uma cobrança maior, não?

É um personagem que você já recebe com uma quantidade tão grande de informações que se pensar muito acaba desistindo. Eu vi o Diogo Vilela, o Wagner Moura e até o Jude Law em uma montagem em Londres. Para mim, é como se nenhum deles tivesse feito. Assim como o Sérgio Cardoso e o Walmor Chagas. São manifestações diferentes. Não há uma única maneira de um artista se manifestar em relação a um personagem. Por isso, é legal quando surgem simultaneamente mais de uma montagem de um mesmo texto É uma experiência bacana para o público também.

Mas você fez uma pesquisa teórica, não?

Li muito sobre Hamlet. Conversei muito também com Ron. Vi várias montagens em vídeo, mas chegou uma hora em que precisei me livrar desse acúmulo de referências para começar do zero. Em nenhum momento, o Ron tem uma pretensão a mais nesse texto. É o discurso de a gente encontrar a simplicidade nesse menino que se vê diante de uma grande crise e não sabe para onde correr. Esse é o nosso Hamlet e será a primeira vez que ele será visto dessa forma.

A experiência de protagonizar “Calígula” foi fundamental para você se sentir preparado?

Sem dúvida, o Calígula foi o meu Hamlet, entende? Foi um personagem transformador, um marco na minha carreira. Nesse trabalho, o diretor Gabriel Villela me deu a certeza de que no teatro é importante o conjunto, um todo. O ator é só um mecanismo para contar a história. O humanismo do Gabriel foi uma coisa que realmente me pegou. E naquela hora pensava que o que estava aprendendo ali seria usado mais tarde. Por isso, não vejo o Hamlet como um veículo para brilhar sozinho.

O convite veio através do Ruy Cortez. O Ron Daniels não conhecia você?

O Ron jamais tinha ouvido falar em mim até ser indicado o meu nome. Ele está fora do Brasil há tanto tempo. Nunca me viu em novelas e nem procurou cenas antigas ou filmes para ter uma noção do meu trabalho. Isso é fantástico. A direção formou realmente um elenco igualitário.  Por que todos que interpretam o Hamlet fazem questão de solar? Isso é inevitável, não precisa forçar a barra. Todo mundo ali tem seu momento.

Você consegue enxergar o quanto suas experiências no teatro influem no trabalho na televisão?

Cada trabalho sempre influi naquele que o sucede. Além de ser mais uma experiência de ator, um bom personagem normalmente transforma a pessoa. Você traz ideias novas, busca uma nova compreensão aliada àquela vivência recente. Mas a televisão é outro tipo de veículo, uma outra linguagem. O resultado esperado talvez não seja tão claro como no teatro. O que não tenho dúvidas é de que esses trabalhos trazem material para mim, para a minha formação, para eu aplicar em algum momento no futuro.

E essa transformação pessoal também acontece depois de um bom trabalho na TV?

Tenho uma carreira televisiva com trabalhos muito legais. Posso me orgulhar disso. Meu maior prazer é fazer jus às oportunidades que aparecem. Vou continuar fazendo cada personagem com muita vontade. Essa é minha piração.  No teatro ainda tive a experiência de protagonizar várias edições da Paixão de Cristo. Fiz “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, dirigido pelo José Possi Neto, que também foi sensacional. O José Saramago chegou a nos assistir.

Você se diz muito tímido. Como é enfrentar o palco então?

Esse é um problema que tenho desde adolescência. Com o tempo, aprendi a lidar e conviver com esse medo. Sou quieto, gosto de ficar na minha. Só que, como escolhi essa profissão, eu decidi enfrentar o medo todos os dias. Antes de abrir a cortina, eu me sinto como alguém que teme altura e vai saltar de paraquedas. Mas na minha vida pessoal isso acaba sendo um ganho. Quando chego a um restaurante eu já procuro a mesa do fundo. Nossa profissão acabou se transformando em sinônimo de exposição. E eu preciso enfrentar isso o tempo todo até para preservar também minha família (Lacerda é pai de um menino de 5 anos e de uma menina de 2, do seu casamento com a atriz Vanessa Lóes).

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"Esse é o meu Hamlet", diz Thiago Lacerda sobre montagem que estreia em SP em outubro

Mariana Pasini
Do UOL, em São Paulo



O ator Thiago Lacerda se preocupou em criar seu próprio Hamlet para a montagem da peça de William Shakespeare que estreia em São Paulo no próximo dia 19.

"Esse Hamlet é o meu Hamlet", disse Lacerda durante coletiva realizada nesta quarta-feira (10) no Teatro TUCA, no bairro paulistano das Perdizes, onde a encenação será montada. "O Hamlet que a gente vai fazer é um somatório de encontros, de ideias. Conheço a peça, o personagem, já vi vários de atores fazendo esse texto. Mas independente das referências, a minha única ideia é me manter íntegro ao que eu sinto." É a primeira vez que o carioca vive um personagem do dramaturgo inglês.

Na composição do personagem, que na opinião de Lacerda é o "mais famoso e o mais intenso" da dramaturgia, o ator buscou se ater ao simples, seguindo as orientações do diretor, o brasileiro Ron Daniels. "Existe uma forma simples de alcançar esse personagem, e essa tem sido a minha busca. O que mais me intriga é essa capacidade imaginativa do Hamlet e essa consciência intelectual que o leva à paralisia física. "


Lacerda não nega, porém, que tenha enfrentado alguma dificuldade para viver o príncipe levado à loucura após a morte do pai. Ela ocorreu principalmente devido às muitas possibilidades que a criação de Shakespeare oferece. "A grande cilada desse personagem é que talvez ele seja impossível [de fazer], tamanha a quantidade de portas e de caminhos que oferece."

O ator planeja usar um moicano durante as encenações - inclusive, estava ostentando um, feito por ele mesmo, durante o evento nesta quarta. "Essa é um pouco a ideia estética, para mim. Gosto de brincar com o meu corpo a partir do que penso dos personagens, e gosto de pensar na ideia que, durante o luto, no auge do seu sofrimento, o personagem se mutilou de alguma forma."

Lacerda avalia que cortar o próprio cabelo envolve também um processo de desapego. "Não é uma parte qualquer do corpo. Esse desapego estético e espiritual faz parte da maneira como eu quero encontrar as ideias da peça."

Sem medo da comparação
Lacerda conferiu a montagem de "Hamlet" quando Wagner Moura interpretou o personagem em 2008. Porém, o ator diz não temer ser comparado ao colega. "A comparação é inevitável, as pessoas vivem disso, mas é o menos importante. A experiência artística precisa ser oferecida ao público."

Para ele, não interessa qual montagem é a melhor. "É só mais uma montagem. A nossa é só mais uma montagem. Não acho que seja importante lembrar de outras."

O intérprete de Hamlet nega ter escolhido atuar no teatro para se afastar do estereótipo do galã. "Eu estou lá [na TV] também. Mas gente precisa dar respiro do público da gente, se não cansa. E o teatro é um respiro para eles e para a gente [atores]." Sua última atuação em novelas foi durante "A Vida da Gente", na qual interpretou o médico Lúcio.

Neste ponto da sua carreira, Lacerda não procura mais "qualquer personagem". "Que sejam personagens maravilhosos, porque se não forem, eu não topo; não posso topar algo que não seja à altura do Hamlet. E essa é uma questão - eis a questão!", brincou.


Um Hamlet fiel e "abrasileirado"
Não é o primeiro Hamlet nem o primeiro Shakespeare do diretor Ron Daniels – por quinze anos, ele foi diretor artístico do teatro The Other Place da Royal Shakespeare Company em Stratford-upon-Avon (cidade natal do dramaturgo). Nessa montagem, porém, Daniels foi responsável pela tradução do texto original, ao qual procurou se ater de forma fiel, mas com uma linguagem mais simples, despojada e "gostosa".

"Busquei um texto que permitisse à plateia conhecer a peça por de dentro, saber o que Shakespeare estava dizendo, como se fosse uma peça completamente nova, inédita e brasileira."

Daniels, no entanto, não quis revelar muitos detalhes sobre o cenário e o visual da montagem: afirmou apenas que não serão realistas. "Imaginem um local entre o céu e a Terra, e uma cama nesse local. Não digo mais nada."

Na trama, Hamlet é o filho do Rei da Dinamarca, que morre misteriosamente. Seu fantasma passa a assombrar o príncipe, pedindo que o vingue. Depois que Cláudio, tio de Hamlet, casa-se com Gertrudes, a mãe do príncipe, cresce a desconfiança no personagem-título de que tenha sido ele o assassino do Rei.

Busquei um texto que permitisse à plateia conhecer a peça por de dentro, saber o que Shakespeare estava dizendo, como se fosse uma peça completamente nova, inédita e brasileira.

Ron Daniels, diretor
Antonio Petrin, que vive o fantasma, definiu a proposta de Ron como um drama familiar. "E quem não conhece essa tragédia?", pergunta. Para o ator, a peça tem uma dimensão de personagens extraordinária. "Apoderar-se dessa dimensão é o grande desafio."

Para a atriz Anna Guilhermina, intérprete de Ofélia (pretendente de Hamlet), as orientações de Ron Daniels foram importantes para que ela se atesse ao mais simples. "Ele me falou assim: 'Eu faço o pão'. Ele vai para uma simplicidade que vai dando a medida."

A encenação contará também com atores como Eduardo Semerjian (Cláudio) e Roney Facchini (Polônio). O público poderá conferi-la às sextas e sábados às 21h e aos domingos às 19h, com ingressos variando entre R$ 40 e R$ 60. A temporada vai até 16 de dezembro.

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