18/10/2012 – Atualizado em 26/10/2012
Hamlet
Thiago Lacerda vive o príncipe dinarmaquês
Uma montagem de Hamlet totalmente nova e brasileira. Foi esse o desejo que moveu o diretor Ron Daniels, um dos maiores especialistas em Shakespeare, para apresentar agora ao público “Hamlet”, que estreia nesta sexta, dia 19, no Teatro Tuca em São Paulo. Na pele do perturbado príncipe dinamarquês está Thiago Lacerda, que contracena com um elenco formado por 14 atores, entre os quais Antônio Petrin (fantasma do rei), Eduardo Semerjian (Cláudio) e Roney Facchini (Polônio).
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“A ideia é mostrar uma montagem completamente nova e não significa que abrasileiramos a peça, mas sim que usamos palavras que eu digo, que todos dizem. Não existe mística. Se eu não entendo, corto porque o público também não vai entender”, acredita Daniels. Um dos responsáveis também pela tradução da obra de Shakespeare, o diretor salienta que se dedicou muito para construir um texto que fosse completamente brasileiro, mas que também tivesse a maior lealdade com a montagem original. Ele explica os motivos pelos quais escolheu a primeiríssima edição de Hamlet – publicada pela memória de um ator que fazia um papel pequeno na peça, o papel de Marcelo – para esta montagem. “A colocação do monólogo do ser ou não ser faz muito mais sentido para mim na primeira dramaturgia, me parece muito melhor. Tem também o quarto monólogo que gosto muito e optei por não cortar, mas a ideia é oferecer o texto maravilhoso de Shakespeare ao público e ver como ele reage”, diz.
Para Daniels o texto do dramaturgo inglês continua atual: “Shakespeare sabia o que estava fazendo. Uma coisa que descobri é a quantidade de doenças que se fala na peça: Cláudio descreve Hamlet como um tumor que se espalha pelo corpo; Hamlet descreve Cláudio como uma pústula e, no final, não é só o Hamlet que está doente, mas a sociedade, com a corrupção. Todos estão doentes. E o retrato disso é empolgante. Hamlet é um gênio e se estivesse vivendo nos dias de hoje ele estaria em Hollywood”. Os ensaios levaram três meses e Daniels diz que o público pode esperar por um emocionante trabalho final: “O espetáculo tem quase duas horas e meia de duração e, com os ensaios, ganhamos muito conhecimento e profundidade. Espero que a experiência seja deslumbrante ao encontrarmos o público”.
Para Thiago Lacerda, o grande desafio desta montagem, bem como a beleza da proposta de Ron, foi encontrar – com muita simplicidade – uma solução para o drama familiar do texto. O ator comenta as características mais significativas e desafiadoras de seu personagem. “É a história de um menino que está doente e não sabe o motivo. E a capacidade imaginativa, a inteligência e a consciência intelectual que o leva à paralisia física são os elementos que mais me intrigam. Interpretar Hamlet, talvez seja impossível, por conta das inúmeras portas e caminhos que o personagem oferece”, diz o ator. Thiago ressalta a preocupação com a composição de seu personagem, um dos mais famosos e intensos da história da dramaturgia. “Conheço a peça, já vi muitos atores fazendo o texto, tenho as referências, mas a minha única ideia é ter integridade em relação ao que sinto. Esse Hamlet é o meu Hamlet; um somatório de encontros, ideias e nunca passou pela minha cabeça absorver qualquer característica de montagens anteriores”, diz.
Eduardo Semerjian, que vive Cláudio, também fala sobre o envolvimento com seu personagem: “Existe um momento em que ele fala das coisas que conseguiu com a morte do irmão: a coroa, o poder e a mulher. E eu usei o amor que ele tem pela mulher para humaniza-lo. Ele é um cara que também ama, que também tem sentimento e que também tem medo. Mas existe um outro lado dele que é o da fera que vai lá e assassina o próprio irmão, casa com a cunhada e simula que está tudo bem”.
O veterano Antonio Petrin, que vive o fantasma do pai de Hamlet, define a proposta da peça como um drama familiar, contado de uma maneira genial e com um enredo intrigante: um rei que é tirado do poder à força e é morto; uma rainha que se casa com o cunhado e um filho que se encontra desesperado com tudo isso e procura uma vingança. “E quem não conhece essa tragédia dentro de uma família brasileira? A própria TV se utiliza de núcleos familiares para contar as histórias. Cada um dos atores tenta extrair essa modernidade, essa coisa brasileira para que o público percorra por vários caminhos e descubra essa maravilha dessa peça”, diz Petrin.
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