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Postado em 12/10/2012 por Dirceu Alves Jr | 1 comentário
“Não vejo Hamlet como um veículo para brilhar sozinho”, diz Thiago Lacerda

Quatro anos depois de Wagner Moura dividir opiniões na pele do grande personagem criado por William Shakespeare é a vez de o ator carioca Thiago Lacerda protagonizar a tragédia “Hamlet”. Aos 34 anos, o galã popularizado pelas novelas não teme comparações com nenhum dos colegas, contemporâneos ou não, que enfrentaram o desafio. A montagem comandada pelo diretor brasileiro Ron Daniels, que vive entre os Estados Unidos e a Inglaterra há 30 anos, estreia no Tuca na sexta (19).

Quando chega a hora de um ator interpretar Hamlet?

A hora se faz. Já pensava em montar algum texto de Shakespeare. Gosto de tantos e, de certa forma, fugia de “Hamlet”. Como tinha feito “Calígula” entre 2008 e 2009, eu achava que não era o caso. Para mim, os dois têm uma estrutura dramática semelhante. Mas recebi uma ligação do Ruy Cortez (idealizador do projeto) e veio esse convite. Ser dirigido pelo Ron Daniels, um cara que tem pelo menos quatro montagens de “Hamlet” nas costas e é especialista em Shakespeare, também me animou muito. Vi que poderia ser agora ou nunca.

É um personagem cercado de uma cobrança maior, não?

É um personagem que você já recebe com uma quantidade tão grande de informações que se pensar muito acaba desistindo. Eu vi o Diogo Vilela, o Wagner Moura e até o Jude Law em uma montagem em Londres. Para mim, é como se nenhum deles tivesse feito. Assim como o Sérgio Cardoso e o Walmor Chagas. São manifestações diferentes. Não há uma única maneira de um artista se manifestar em relação a um personagem. Por isso, é legal quando surgem simultaneamente mais de uma montagem de um mesmo texto É uma experiência bacana para o público também.

Mas você fez uma pesquisa teórica, não?

Li muito sobre Hamlet. Conversei muito também com Ron. Vi várias montagens em vídeo, mas chegou uma hora em que precisei me livrar desse acúmulo de referências para começar do zero. Em nenhum momento, o Ron tem uma pretensão a mais nesse texto. É o discurso de a gente encontrar a simplicidade nesse menino que se vê diante de uma grande crise e não sabe para onde correr. Esse é o nosso Hamlet e será a primeira vez que ele será visto dessa forma.

A experiência de protagonizar “Calígula” foi fundamental para você se sentir preparado?

Sem dúvida, o Calígula foi o meu Hamlet, entende? Foi um personagem transformador, um marco na minha carreira. Nesse trabalho, o diretor Gabriel Villela me deu a certeza de que no teatro é importante o conjunto, um todo. O ator é só um mecanismo para contar a história. O humanismo do Gabriel foi uma coisa que realmente me pegou. E naquela hora pensava que o que estava aprendendo ali seria usado mais tarde. Por isso, não vejo o Hamlet como um veículo para brilhar sozinho.

O convite veio através do Ruy Cortez. O Ron Daniels não conhecia você?

O Ron jamais tinha ouvido falar em mim até ser indicado o meu nome. Ele está fora do Brasil há tanto tempo. Nunca me viu em novelas e nem procurou cenas antigas ou filmes para ter uma noção do meu trabalho. Isso é fantástico. A direção formou realmente um elenco igualitário.  Por que todos que interpretam o Hamlet fazem questão de solar? Isso é inevitável, não precisa forçar a barra. Todo mundo ali tem seu momento.

Você consegue enxergar o quanto suas experiências no teatro influem no trabalho na televisão?

Cada trabalho sempre influi naquele que o sucede. Além de ser mais uma experiência de ator, um bom personagem normalmente transforma a pessoa. Você traz ideias novas, busca uma nova compreensão aliada àquela vivência recente. Mas a televisão é outro tipo de veículo, uma outra linguagem. O resultado esperado talvez não seja tão claro como no teatro. O que não tenho dúvidas é de que esses trabalhos trazem material para mim, para a minha formação, para eu aplicar em algum momento no futuro.

E essa transformação pessoal também acontece depois de um bom trabalho na TV?

Tenho uma carreira televisiva com trabalhos muito legais. Posso me orgulhar disso. Meu maior prazer é fazer jus às oportunidades que aparecem. Vou continuar fazendo cada personagem com muita vontade. Essa é minha piração.  No teatro ainda tive a experiência de protagonizar várias edições da Paixão de Cristo. Fiz “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, dirigido pelo José Possi Neto, que também foi sensacional. O José Saramago chegou a nos assistir.

Você se diz muito tímido. Como é enfrentar o palco então?

Esse é um problema que tenho desde adolescência. Com o tempo, aprendi a lidar e conviver com esse medo. Sou quieto, gosto de ficar na minha. Só que, como escolhi essa profissão, eu decidi enfrentar o medo todos os dias. Antes de abrir a cortina, eu me sinto como alguém que teme altura e vai saltar de paraquedas. Mas na minha vida pessoal isso acaba sendo um ganho. Quando chego a um restaurante eu já procuro a mesa do fundo. Nossa profissão acabou se transformando em sinônimo de exposição. E eu preciso enfrentar isso o tempo todo até para preservar também minha família (Lacerda é pai de um menino de 5 anos e de uma menina de 2, do seu casamento com a atriz Vanessa Lóes).

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